O Presidente da República, João Lourenço, defendeu, na sexta-feira, a construção de pequenas unidades hospitalares que atendam, em primeira linha, os cidadãos. Quem diria que o Presidente do MPLA iria, num rasgo de intelectualidade nunca visto, descobrir a pólvora?
O também Titular do Poder Executivo, para além de inventor de soluções já conhecidas e implementadas pelos portugueses há 50 anos, expressou essa necessidade na sessão especial do Conselho de Ministros dedicada ao processo de elaboração dos Planos Integrados de Intervenção para cada uma das províncias do país.
Em relação aos hospitais de maior dimensão, o Presidente João Lourenço referiu que já estão definidos, construídos ou vão surgir.
MPLA HIPOTECOU E VENDEU OS ANGOLANOS
O Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, coadjuvado por uma equipa económica considerada, pelo mercado, como das piores, para enfrentar um momento de crise nacional e global, será, seguramente, responsabilizado pelos vivos… com os testemunhos dos mortos.
Actualmente, a maioria dos cidadãos, não vislumbra uma projecção com sentido lógico, tão pouco uma equação económica e social blindada na realidade do país real, salvo a irracional opção por uma política neoliberal, cujo mérito, se disso podemos aferir, apostou em dormir nos nauseabundos anexos do Fundo Monetário Internacional, algumas vezes até mesmo no matagal que circunda esses anexos.
A saída, a solução, passa por lançar mãos de uma nova organização das estruturas estatais, capazes de planificarem o fomento, em larga escala, do desenvolvimento de uma agricultura familiar, a média produção avícola, caprina e pecuária, capaz de alavancar a pequena e média indústria, alimentada com recursos financeiros derivados da venda do petróleo, ainda determinante nos próximos 20 anos para o desenvolvimento.
Essa estratégia (que nem sequer é uma espécie de “ovo de Colombo”, apenas sendo um patamar mínimo para quem conhece o país) daria uma grande folga e capacidade de encaixe financeiro ao governo, porquanto as receitas do petróleo, ao invés de estarem confinadas ao pagamento da dívida aos grandes credores, serviria para incrementar o fomento do desenvolvimento noutras áreas, fundamentalmente, educação e saúde.
Em fase de crise é prudente, responsável, patriótico a adopção de medidas que visem o amanhã sem muitos sobressaltos, não sendo, infelizmente, o caso actual, porquanto, o pacote assinado com o Fundo Monetário Internacional é mais um oceano de problemas do que de soluções, sendo até humilhante (para além de motivo de sarcasmo) que o Presidente da República tenha aceite hipotecar o país.
A teoria neoliberal de apoio cego, besta e irracional às políticas económicas do FMI, augura péssimos resultados. Em nenhum momento o Fundo pensa na maioria pobre, no seu emprego, na estabilidade social, pelo contrário, muitas vezes rejubila com as convulsões sociais, que são sempre uma oportunidade para o ocidente fazer negócios, no caos, com os governos. Estejamos atentos a como vai ser, e quem vai reconstruir, a Ucrânia.
O exemplo do Gana, cuja receita fez com que a economia, nomeadamente petróleo e diamantes, estejam nas mãos dos estrangeiros, alimentam sempre os vários ciclos de tensão. Por outro lado, não se deveria descurar (bem pelo contrário) as lições que vêm da Argentina e do Chile.
O Presidente da República apostou no cavalo errado, com opções, igualmente erradas, que apenas estão a agravar a situação do país, pois o neoliberalismo não dará certo. O neoliberalismo capitaneado pelo ocidente europeu e os EUA, países considerados como pais da democracia, na realidade, sempre foram os principais estimuladores dos conflitos militares, vendendo armas, equipamentos e fornecendo até mercenários, para colocar no poder, o fantoche de eleição, para gáudio da indústria armamentista ocidental, que enriquece astronomicamente, com a catástrofe dos países pobres, liderados por líderes pobres de espírito, complexados, que vivem como nababos em grandes palácios, rodeados de luxo.
Nem mesmo maltratando os respectivos povos, tornando-os miseráveis, indigentes, face à má-gestão, à delapidação do erário público, à descarada corrupção, mobilizam a sensibilidade dos ocidentais. Os exemplos estão à mão de semear. E se o FMI e o Banco Mundial estivessem, verdadeiramente, preocupados com o desenvolvimento dos países africanos, já teríamos Estados modelo, com instituições do Estado fortes, sistemas de justiça, independentes e imparciais, eleições livres e justas, educação forte e líderes democráticos, comprometidos com a alternância e o sentimento de bem servir o colectivo.
Infelizmente ocorre o inverso, por ser mais vantajoso às organizações de Bretton Woods colocarem-se como abutres, com a cumplicidade de presidentes africanos, dóceis, fracos e corruptos. Os líderes diferentes, comprometidos com valores morais e as relações harmoniosas dos seus povos, como Thomas Sankara, que apostou na Educação, como alavanca de uma verdadeira independência e na Agricultura familiar, como mola da auto-suficiência alimentar e do desenvolvimento, são selvaticamente assassinados, por constituírem uma pedra no sapato dos exploradores ocidentais.
Isso não retira a importância dessas organizações, mas o modelo aplicado, desde a época das independências, demonstram ter África apenas trocado o colonialismo explícito, pelo actual, sub-reptício, assente no capital financeiro internacional, na senda da contínua exploração das matérias-primas, dominando as suas economias e inviabilizando o desenvolvimento multifacetado e autonomia dos países.
A lógica do capitalismo ocidental, quando empresta (financiamento) dinheiro, visa o retorno rápido do investido com juros altos, exigindo em contrapartida, uma política descomunal de restrições, na economia, através de despedimentos massivos, privatização do sector público, pacote severo de impostos (não poupam a cesta básica), pagos pelos mais pobres e vulneráveis, os menos beneficiados.
Actualmente, face à amadora e vergonhosa política económica, adoptada pelo Titular do Poder Executivo e pelo respectivo ministro de Estado, Manuel Júnior, o país, vive momentos de autêntica turbulência política e social, desnorte empresarial, com a desvalorização abrupta da moeda, inflação galopante e altos impostos como uma das receitas impostas pelo FMI. Para agravar a situação a tese saloia de haver mais-valias na privatização dos principais activos do Estado, apenas beneficia e escancara as portas aos empresários estrangeiros que, a preço de banana, têm carta-branca, para adquirir (talvez o termo exacto seja roubar) e passar a controlar as empresas públicas e os principais sectores da economia, nomeadamente, petróleo, banca, diamantes, ferro, mármore, agricultura, numa só palavra, a colonização económica, com a bênção do Presidente da República.
O entreguismo e conceito de vira-lata, instalado nos corredores palacianos, na maioria das vezes serve apenas para manutenção no poder de regimes autocráticos e nunca o desenvolvimento e soberania dos países e povos. O neoliberalismo não faz mais do que privilegiar as multinacionais e Estados capitalistas desenvolvidos, para em conluio com líderes africanos ou subdesenvolvidos complexados, autocráticos e corruptos, explorar os recursos naturais e dominar a economia de países pobres, favorecendo apenas a elite desses países que lhes garante a escravatura do século XXI.
Não é, pois, sem razão que o Prémio Nobel da Economia de 2001, o economista americano, Joseph Eugene Stiglitz, professor da Universidade de Columbia, um dos mais fervorosos críticos do FMI, considerou a alegada globalização comercial e o capitalismo voraz como alguns dos factores que contribuem para a desigualdade no mundo, principalmente em países, onde as instituições políticas, económicas e públicas do Estado, são frágeis.
Logo nessa equação, no final quem ganha são sempre as potências capitalistas, que deixam os países mais pobres e com menos recursos materiais e humanos (grande parte dos tecnocratas e intelectuais imigra para o Ocidente). Desconfiar do FMI não significa desacreditar, no todo, nessa instituição e nos países ocidentais ricos, que tornam África e Angola mais conhecidas pelas suas desgraças, como guerras, doenças, corrupção, fome, desemprego do que como berço da humanidade, com um longo potencial, para desabrochar, carentes apenas de líderes defensores das respectivas soberanias, com potencial de honestidade e comprometimento de servir o colectivo, iniciando com verdadeiras revoluções do saber, para a formação de estruturas sólidas de Educação, base para um desenvolvimento seguro.